O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) confirmou que Deise Moura dos Anjos, presa por suspeita de envenenar um bolo que causou a morte de três pessoas da mesma família em Torres, realizou pesquisas na internet sobre arsênio antes do crime. A informação foi divulgada pela RBS TV.
De acordo com o TJRS, um relatório preliminar dos dados extraídos do telefone da suspeita mostra que houve "busca na internet, inclusive no Google Shopping, pelo termo arsênio e similares". O arsênio é um elemento químico altamente tóxico, cujo uso como raticida é proibido no Brasil. A substância é utilizada de forma restrita como agente quimioterápico em tratamentos contra leucemia promielocítica aguda.
A reportagem da RBS TV também apurou, junto à Polícia Civil, que as buscas foram realizadas em novembro, antes do envenenamento. As investigações seguem em andamento e, segundo os investigadores, a motivação não foi divulgada para não prejudicar o andamento do caso.
O envenenamento por arsênio foi apontado como a causa da morte de três mulheres da mesma família, após consumirem o bolo no dia 23 de dezembro de 2024.
A prisão de Deise Moura dos Anjos foi decretada por 10 dias, prazo que será utilizado pela Polícia Civil para concluir a investigação. A defesa da suspeita informou, na segunda-feira (6), que prestou atendimento em parlatório à cliente, mas ainda não teve acesso integral ao inquérito.
Marguet Mittman, diretora do Instituto-Geral de Perícias (IGP), revelou que a fonte da contaminação foi a farinha utilizada para preparar o bolo. Segundo Mittman, 89 amostras foram coletadas na residência de Zeli dos Anjos, sogra de Deise e responsável pelo preparo do bolo. Uma dessas amostras, correspondente à farinha, apresentou concentrações altíssimas de arsênio.
As vítimas fatais do envenenamento foram Neuza Denize Silva dos Anjos, Maida Berenice Flores da Silva (irmã de Neuza) e Tatiana Denize Silva dos Anjos (filha de Neuza). Zeli dos Anjos, que preparou o bolo, também ingeriu o alimento e foi hospitalizada em estado grave. Ela deixou a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nesta segunda-feira (6) e permanece internada, mas está estável. Uma criança de 10 anos que também comeu o bolo recebeu alta do hospital na sexta-feira.
No dia do incidente, sete pessoas estavam reunidas para um café da tarde na casa de Zeli, em Arroio do Sal, quando começaram a passar mal após ingerirem o bolo. O marido de Neuza, que não comeu o doce, não apresentou sintomas. O marido de Maida consumiu o alimento e foi hospitalizado, mas já recebeu alta. Os nomes dos sobreviventes não foram divulgados oficialmente.
O delegado Marcus Vinícius Veloso, responsável pela investigação, relatou que as vítimas notaram um gosto estranho no bolo logo após consumi-lo. O sabor apimentado e desagradável foi percebido pelas primeiras pessoas que comeram o doce. Diante das reclamações, Zeli interrompeu o consumo.
"Tão logo o menino de 10 anos comeu e também reclamou do sabor, ela colocou a mão sobre o bolo e disse: 'Agora ninguém mais come'. As pessoas começaram a passar mal naquele momento", afirmou o delegado.
Marguet Mittman destacou que as vítimas apresentaram concentrações extremamente altas de arsênio no sangue. Para se ter ideia, 35 microgramas são suficientes para causar a morte de um indivíduo. Em uma das vítimas, foi detectada uma concentração 350 vezes maior.
"Foram identificadas concentrações altíssimas de arsênio nas três vítimas. Tão elevadas que são tóxicas e letais", explicou Mittman.
Em coletiva de imprensa, o delegado Veloso afirmou que há provas robustas que indicam Deise Moura dos Anjos como autora do crime. "Ela teve a intenção de cometer o crime. Foi doloso", destacou.
A Polícia Civil continua apurando detalhes sobre o alvo de Deise, a forma como ela obteve o arsênio e o momento exato em que o veneno foi adicionado à farinha.
André Valle de Bairros, professor de Toxicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), explicou que o arsênio é o elemento químico, enquanto arsênico se refere ao composto tróxido de arsênio.
"A partir de 100 mg de arsênico é possível causar a morte de um adulto. O composto geralmente está em forma de pó, sem cheiro ou gosto. Apesar de ser utilizado no passado como raticida, hoje ele é restrito a tratamentos oncológicos", explicou o especialista.
Bairros ressaltou que o arsênico é proibido para comercialização como raticida no Brasil, mas contaminações naturais podem ocorrer em fontes de água e alimentos. "Há relatos de contaminação em leite, carne e frutas, mas exposição não significa, necessariamente, intoxicação", concluiu.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
Fonte: G1
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