Uma disputa familiar iniciada há mais de 20 anos pode ter sido a motivação para o envenenamento que resultou na morte de três pessoas em Torres, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Deise Moura dos Anjos, suspeita de ter envenenado o bolo consumido na véspera de Natal, teria cometido o crime após anos de atritos com a sogra, Zeli dos Anjos.
Depoimentos colhidos pela Polícia Civil durante a investigação apontam que as desavenças começaram em agosto de 2004, após um saque não autorizado de R$ 600 feito por Zeli de uma conta conjunta de Deise e seu marido. O valor, que atualizado ultrapassa R$ 2,4 mil, teria sido retirado sem a permissão do casal.
Embora o dinheiro tenha sido devolvido ao gerente do banco no dia seguinte, Deise relatou que a relação entre elas nunca mais foi a mesma. Segundo a investigada, o episódio marcou o início de uma série de brigas que se arrastaram ao longo das décadas seguintes, gerando desconfiança mútua. Deise chegou a declarar que, a partir daquele momento, passou a chamar a sogra de “naja” e a culpá-la por problemas enfrentados em seu casamento.
Deise e o marido, pais de um menino de 11 anos, tiveram um relacionamento conturbado, com separações temporárias e momentos de crise. Em 21 de novembro de 2024, a suspeita chegou a registrar um boletim de ocorrência por vias de fato contra o companheiro, mencionando a sogra como um fator que contribuía para os desentendimentos do casal. “Desde o dia em que a mãe dele invadiu nossa privacidade e nos roubou, nossa vida foi um inferno. Mesmo assim, sempre o apoiei, ajudei, fui mãe praticamente sozinha. Nossa família nunca se deu bem”, escreveu Deise no documento.
No dia 31 de agosto de 2024, em uma tentativa de reaproximação, Deise e o marido, que moram em Nova Santa Rita, foram visitar Zeli em Arroio do Sal, onde a sogra estava residindo após perder a casa em Canoas durante as enchentes. Durante a visita, Deise levou bananas e leite em pó para a sogra. No dia seguinte, Zeli e seu marido, Paulo Luiz dos Anjos, passaram mal após consumir os alimentos e foram hospitalizados.
Paulo morreu no dia 2 de setembro, apresentando sintomas de vômito e diarreia semelhantes aos observados nas vítimas do envenenamento ocorrido em Torres, no Natal. À época, a família acreditou que a morte foi causada por intoxicação alimentar, possivelmente ligada ao consumo de bananas contaminadas pela enchente.
Agora, com a confirmação de arsênio no bolo e nas vítimas que faleceram em dezembro, o corpo de Paulo será exumado para uma nova perícia. A suspeita da Polícia Civil é de que ele também tenha sido vítima de envenenamento.
Antes de ser presa no último domingo (5), Deise Moura dos Anjos admitiu os atritos com a sogra, mas não comentou sobre o envenenamento. A polícia segue investigando o caso e não descarta a possibilidade de novas revelações ou outros envolvidos no crime.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
Fonte e foto: Leouve
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